
A igreja mais antiga dedicada a Santa Luzia no Rio de Janeiro fica no Centro, na Cinelândia em uma rua que recebe seu nome. Administrada pela Irmandade da Virgem Mártir Santa Luzia no dia da padroeira, 13 de dezembro, acontecem celebrações de hora em hora. Dentre elas, uma é celebrada pelo frade franciscano do Convento de Santo Antônio, frei Anselmo Fracasso, que aos 21 anos perdeu a visão devido a uma infecção, e foi o segundo padre cego a ser ordenado no mundo.
A virgem mártir italiana de família rica, cujo nome significa luz e que além de doar seus bens aos pobres e teve os olhos arrancados por sua fidelidade a Deus, serve de inspiração para pessoas como frei Fracasso. Ele contou que quando perdeu a visão estava no seminário estudando para ser padre. No entanto, era proibida pelo Direito Canônico a ordenação de padres cegos.
“Eu me vi com as portas fechadas. Mas me ‘agarrei’ com Nossa Senhora e então as portas se abriram. Estudei Braille, datilografia, e depois que terminei os estudos, fizemos um pedido ao Papa João XXIII. Ele autorizou minha ordenação”, contou ele.
Na homilia, o frade lembrou que a verdadeira visão vem de dentro. Segundo ele, “os olhos do corpo enxergam a forma. Os olhos da mente e do espírito encontram mensagem em tudo o que enxergam”. Um exemplo disso é o de Santa Luzia, que enxergava além do que os olhos a permitiam ver.
“Ela nos deu essa grande lição. Preferiu ter os olhos arrancados pela violência humana do que perder a luz da fé em seu coração. Eles queriam que ela renegasse o Cristo, e como ela se recusou, eles arrancaram-lhe os olhos. Isso é que é fidelidade!”, frisou.
Outras formas de enxergar
Quem faz há três anos a animação da missa é um coral composto por mulheres que também perderam, por algum motivo, o sentido da visão. Elas são acolhidas e atendidas pelo Sodalício da Sacra Família, uma instituição que apoia e ampara pessoas, principalmente crianças com deficiência visual.
“Frei Anselmo gosta muito de escutar a voz das meninas nessa missa que celebra porque também não tem a visão física, está na mesma condição que elas. Então é como se fosse uma parceria: ele celebra e elas cantam”, ressaltou a irmã Maria das Graças Rodrigues, da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Glória, que atua no Sodalício.
Elaine Cristina Lima Malaquias, uma das cantoras desse coral, conta que nasceu cega devido a uma doença chamada catarata congênita. Mora no Rio há 21 anos e há oito foi acolhida pelo Sodalício. Para ela, participar do coral e cantar na missa é um momento de alegria e que leva os participantes à reflexão sobre as próprias vidas.
“É um momento em que cada um vai olhar para dentro de si e se perguntar se realmente está enxergando. Porque mesmo quem enxerga com os olhos, pode ter o coração fechado”, alertou ela.
Coragem
No Dia de Santa Luzia o Papa Francisco recebeu no Vaticano cerca de cem membros do Conselho Nacional da União Italiana dos Cegos e com Deficiência Visual. Ele fez questão de destacar, dentre as características da jovem mártir, a coragem. Uma coragem que é necessária às pessoas que precisam conviver com o fato de não terem ou perderem um dos sentidos considerados mais importantes. E essa coragem, segundo o Sumo Pontífice, vem de Deus.
“A santa era uma jovem mulher indefesa, que enfrentou torturas e a morte violenta com grande coragem, uma coragem que vinha de Cristo ressuscitado, ao qual estava unida, e do Espírito Santo, que nela habitava”, disse Francisco.
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