segunda-feira, 22 de junho de 2015

Intolerância religiosa: Dom Orani recebe menina que levou pedrada no Rio


A Comissão de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da Arquidiocese do Rio foi criada para fortalecer a promoção do ecumenismo e do diálogo inter-religioso à luz das orientações do magistério eclesial, em atenção à pluralidade religiosa do país. Dentro deste contexto, o Cardeal Arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta, recebeu na manhã desta sexta-feira, 19 de junho, a menina Kailane Campos, de 11 anos, que foi atingida por uma pedrada na cabeça por ser adepta do Candomblé, no último domingo, quando seguia para um centro, na Vila da Penha.
O encontro, onde o Cardeal pôde expressar sua solidariedade e reafirmar sua abertura ao diálogo com outras religiões, contou também com a presença da avó de Kailane, Kátia Marinho, que estava com a menina no momento da pedrada. Representantes da Comissão Arquidiocesana de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso, e da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa também participaram da reunião.
“A Igreja Católica sempre esteve aberta ao diálogo inter-religioso e já há muito tempo, desde que cheguei aqui no Rio, temos tido muitos encontros. A Jornada Mundial da Juventude (JMJ Rio2013), por exemplo, também foi um belo e grande momento de partilhas com as religiões. E quando vemos que a nossa cidade começa a dar sinais de intolerância religiosa, de não mais aceitar o outro, isso nos causa uma grande preocupação. (...) Disse a Kailane, a sua avó, e aos outros que a postura cristã é de quem acredita que nós somos criados por Deus e cada um tem a sua dignidade... Somos pessoas humanas chamados a viver respeitando-nos mutuamente independente de etnia, religião e ideologia. Enquanto alguém que se preocupa com o diálogo inter-religioso conclamo a sociedade para que veja que aqui, no Rio de Janeiro, a cultura sempre foi de entendimento, fraternidade e compreensão... Que possamos conviver cada um respeitando a condição do outro”, exortou Dom Orani.
À frente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, o Babalawo Ivanir dos Santos destacou a importância do encontro e anunciou que um dossiê sobre a intolerância religiosa não só na cidade do Rio, mas em todo o Brasil, será lançado pela comissão no dia 18 de agosto, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ).
“Este momento representa a continuidade do diálogo que nós temos tido com a Igreja Católica e com as outras religiões também, pois dialogamos com todos através da comissão. Dom Orani nos receber e acolher a família é um sinal muito importante, pois nesse encontro a Igreja Católica simboliza e demonstra para toda a sociedade que o ódio não faz parte de nenhuma postura religiosa e isso é muito bom para todos nós. (...) A comissão vai lançar um dossiê sobre a intolerância religiosa, no dia 18 de agosto, em uma audiência pública, na Assembleia Legislativa do Rio, mostrando não só os casos do Rio de Janeiro, mas também casos de todo o país. A grande diferença é que no Rio você tem uma comissão que se organiza e não só denuncia, mas acompanha o caso do ponto de vista legal, pois esses casos não são algo de atitude religiosa, mas são atitudes que têm haver com ódio, perseguição e, no fundo, preconceito, e sendo crime tem que ser tratado como crime”, afirmou Ivanir.
Três dias após levar uma pedrada na cabeça desferida por dois homens que a chamaram de “macumbeira” e dizer que ela deveria “queimar no inferno”, Kailane voltou a ser vítima de ofensas na manhã da última quarta-feira quando estava com a avó no Instituto Médico-Legal (IML) para fazer exame de corpo de delito.
“Eu gosto da minha religião e a escolha de fazer parte dela foi minha. Espero que todo mundo se una na busca por respeito”, desejou a jovem candomblecista.
Em um levantamento divulgado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência no primeiro semestre de 2014 o serviço do Disque Direitos Humanos (Disque 100) registrou 21 denúncias de ofensas à religião no estado do Rio de Janeiro. Mais da metade das ligações de 2013, com total de 39 denúncias no estado.
 
Fonte: Site da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro
Texto: Raphael Freire
Foto: Gustavo de Oliveira

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